Conselhos e anticonselhos de poeta

Ementa do Curso

Conselhos e anticonselhos de poeta

Leitores implacáveis da poesia alheia, conselheiros devotados de jovens literatos ou mesmo irônicos anticonselheiros contra o pronto receituário da escrita de sucesso, inúmeros poetas de diferentes línguas, em situações de interlocução as mais diversas, empregaram o verso e a prosa para lembrar os iniciantes na literatura das conveniências e das inconveniências da prática poética.

Em busca de conselhos, o jovem João Cabral de Melo Neto, ainda autor de poucos versos, perguntou a Carlos Drummond de Andrade como colher da náusea burocrática a flor. Mário de Andrade, mesmo se sentindo orgulhoso de jamais aconselhar os jovens ávidos por publicar os primeiros poemas, não se furtou às generosas lições das coisas das artes. Afinal, se conselho não fosse bom, por que tantos poetas o dariam?

É a isso que vamos tentar responder neste curso, em que textos de diferentes tons e matizes com recomendações a iniciantes no ofício da poesia serão tomados como um gênero próprio, tecido nas tramas da sociabilidade literária e praticado por autores tão diferentes como Drummond, Olavo Bilac, Cecília Meireles, Rainer Maria Rilke ou Wisława Szymborska.

Pretendemos extrair das recomendações parâmetros para a leitura de alguns desses autores e, também, refletir sobre o que os conselhos e os anticonselhos podem indicar para quem deseja se aventurar na criação poética. Poetas tão diversos como esses enfrentaram o fio da escrita na materialidade da linguagem: almejaram forjá-la com o rigor das convenções, ressignificaram as tradições literárias as mais consagradas, ambicionaram implodir as familiaridades dessas tradições ou, ainda, prolongaram os conflitos entre a estabilidade dos costumes de composição de poesia e a erupção artística da novidade.

Esta é a matéria de que se compõem conselhos e anticonselhos. Que sejam úteis a tantos destinos, como escreveu Cecília Meireles.

Encontros:

1. Epistolário e poesia (1): Rainer Maria Rilke e Cecília Meireles
   As cartas do poeta de língua alemã dirigidas a Franz Xaver Kappus entre 1903 e 1908 formaram gerações de leitores e escritores. Com suas indagações sobre o sentido da vida e da criação, Rilke fez do ofício literário um impulso existencial, recomendando ao iniciante o autoexame com base em questões do tipo: “Sou forçado a escrever?”, “Morreria se me fosse vedado escrever?”.
   Neste primeiro encontro, vamos investigar como essa ideia de poesia se concretiza nos poemas do autor, buscando também ecos de Rilke na obra de Cecília Meireles, que traduziu poemas seus para o português.

2. Crônica e poesia: Carlos Drummond de Andrade
   A reflexão sobre a própria poesia é uma das dimensões fundamentais da obra de Drummond desde a estreia em livro, em 1930, com Alguma poesia. Em composições metapoéticas, o sujeito não apenas medita sobre o tema, mas também o toma como mote para o diálogo, como acontece em “Procura da poesia” (A rosa do povo, 1945): “Penetra surdamente no reino das palavras”.
   Neste segundo encontro, partiremos de uma saborosa e sarcástica crônica supostamente dirigida a um colega iniciante para pensar como o diálogo com o outro ausente é uma das maneiras pelas quais o poeta dialogou consigo a respeito da própria obra. Leremos poemas de diferentes livros, acompanhando os principais deslocamentos da produção poética de Drummond

3. Epistolário e poesia (2): Mário de Andrade e Drummond; Drummond e João Cabral de Melo Neto
   As lições do amigo Mário são basilares para a formulação da dicção poética do Drummond das primeiras horas. Das cartas do mais experiente emergem a defesa da renovação das práticas de escrita de poesia no Brasil dos anos 1920 e o combate pela construção identitária da nacionalidade. Neste terceiro encontro, enfrentaremos os passos dessas lições e as reações reticentes de um autor que, desde o livro de estreia, mostrou-se contundente pela força de suas dúvidas e hesitações: “Também já fui brasileiro”, “também já fui poeta”, lemos em Alguma poesia (1930).
   Vamos ainda avançar por um Drummond missivista ao analisar o diálogo estabelecido pelo poeta mineiro com João Cabral de Melo Neto – admirador contumaz, e igualmente interessado em construir, em meio ao cotidiano burocrático, a possibilidade de um projeto poético que desse forma a suas questões existenciais e sociais.

4. Anticonselhos e poesia: Hilda Hilst, Wisława Szymborska e Max Jacob
   Este quarto e último encontro propõe um passeio por autores diversos, que praticaram o conselho pelo avesso, tomando-o em sua insuficiência, em chave quase sempre paródica, às vezes mordaz. Como poetas que se dedicaram intensamente ao ofício poético, Hilst, Szymborska e Jacob testemunham, pela ironia e o riso, a impossibilidade de uma visão universal da poesia, ao mesmo tempo que, na particularidade de suas concepções, mostram a impossibilidade de abdicar dela.

Aspectos técnicos
As aulas serão transmitidas pelo Google Meet. As instruções para o acesso serão enviadas por e-mail dois dias antes do início do curso. Se você se inscrever nos últimos momentos, receberá essas instruções no dia da primeira aula.

Nossas aulas são transmitidas ao vivo, mas são também gravadas e podem ser assistidas posteriormente. Os links dos vídeos ficam ativos por 30 dias corridos a partir do fim do curso. Oferecemos certificado apenas para quem tiver 75% de presença nas aulas ao vivo.

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