Judith Butler e seus duplos: as referências da filósofa em sua obra

CURSO MINISTRADO POR: Alessandra Affortunati Martins

VAGAS: Fora

CARGA HORÁRIA: 8h

DIAS DO CURSO: 15, 22, 29/05 e 05/06/2023 - 19h00 às 21h00

 

O objetivo do curso é será dissolver a dificuldade de leitura ao mergulhar nas fronteiras das mais importantes articulações do pensamento de Butler. Buscaremos elucidar as diferentes estratégias de tecer seus conceitos nessas interlocuções que são tanto dialéticas, como múltiplas. 

R$ 260,00

Sem estoque no momento!
Avisa-me quando voltar ao estoque.

Avisa-me

Ementa do Curso

Judith Butler é uma das mais importantes feministas da terceira onda. Em razão da infinidade de referências usadas por ela em seus textos, lê-la parece ter sido um desafio para muitas(os) que pretendem se aproximar de sua obra. Martha Nussbaum define seu estilo como “pesado e obscuro (…) denso em menções a outros teóricos, recrutados de um amplo espectro de tradições distintas”. Com isso, suas ideias “nunca seriam descritas com detalhes suficientes para incluir não iniciados”. Tal dificuldade não é casual e se coloca no cerne de sua teoria: de modo análogo à análise que faz de Antígona, Butler se enreda na gramática hegemônica do pensamento, mas abala de outro lugar e de modo irreversível esse edifício tradicional. 

O objetivo do curso será dissolver essa dificuldade de leitura ao mergulhar nas fronteiras das mais importantes articulações de seu pensamento. Buscaremos elucidar as diferentes estratégias de tecer seus conceitos nessas interlocuções que são tanto dialéticas (isto é, comportam tensões que contradizem uma identidade), como múltiplas (concedem vigor a várias dimensões e prismas diversos de pensamento). É possível afirmar que a grande projeção de seu trabalho se deve tanto ao fôlego inesgotável de sua produção quanto às várias articulações que pode estabelecer com os mais variados segmentos da cultura, mas sobretudo com ideias de filósofos(as) que integram o cânone ocidental, pensadoras feministas de diferentes períodos da história e autores(as) descoloniais. Esse caráter extenso de sua obra e o alcance amplo e múltiplo de seus escritos fazem dela uma autora incontornável nos dias atuais. Para essa aproximação do repertório que aparece na obra de Butler, a estrutura do curso divide-se do seguinte modo:

  • Butler com Hegel e Adorno – dialética, conceito de vida e horizontes de emancipação

Aqui veremos os meandros do pensamento dialético butleriano a partir de sua conferência dada por ocasião do Prêmio Adorno: “Pode-se levar uma vida boa em uma vida ruim?”. O título é uma questão colocada por Theodor Adorno na obra Minima Moralia. Entretanto, a noção de vida, explorada em várias partes da obra de Butler, é retirada de W. Benjamin (vida nua) e explorada no capítulo “Liberdade”, que compõe a Dialética negativa, também de Theodor Adorno. Esmiuçando esse conceito poderemos avaliar o contraste entre a análise hegeliana de Antígona e a análise de Butler da mesma tragédia. Por fim, será possível observar de perto a resposta à questão formulada em sua conferência da premiação. 

  • Butler com Derrida – performance e discurso 

Butler toma de Jacques Derrida e de J. L. Austin sua mais enfática perspectiva do que seja performance ligada à linguagem e à noção de desconstrução da metafísica movida por identidades e referências que se estabelecem por oposições binárias. Dissolvendo a metafísica opositiva do binarismo, Derrida penetra uma linguagem que opera como phármakon e se aproxima da tradução – algo que se relaciona com efeitos e impactos de atos de linguagem em uma zona de indeterminação ontológica. Tradicionalmente assentada sobre as antíteses verdade/falsidade e ser/nada, a metafísica ocidental perdeu de vista o entre e a oscilação do pensamento, bem como a validade da própria materialidade da linguagem. Aqui veremos como essa herança desconstrutivista emerge na teoria de gênero da filósofa estadunidense. 

  • Butler com Irigaray e Wittig – sexualidade e poder 

Nesta aula iremos nos dedicar ao embate Irigaray-Wittig e observar em que espaço desse debate Butler encontra sua própria posição. Enquanto Irigaray opera dentro de certo binarismo, Wittig denuncia o binarismo desse modelo de análise, colocando em cena uma posição queer. O método arqueológico de modo a esgarçar as categorias tradicionalmente estabelecidas na história do pensamento ocidental opera por uma dialética que nega o modo como os conceitos se formam na história. De outro lado, Wittig almeja romper com a dupla homem-mulher e colocar a questão do poder atrelado à sexualidade em debate. Veremos como Butler se servirá dessas duas autoras para deslocar-se delas e apresentar sua visão performativa para o debate feminista.

  • Butler com Frantz Fanon – violência e descolonização

Colocando em tensão perspectivas sobre descolonização, Butler aborda a questão da violência e da vida a partir de um diálogo direto com a obra de Frantz Fanon. Aqui entra em jogo a noção de vulnerabilidade, cara à autora, de maneira mais bem desenhada e de modo a nos lançar em análises sobre estruturas colonizadoras.     

Bibliografia

ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.

________. Dialética Negativa. Rio de Janeiro. Zahar. 2009.

________. Minima moralia. Lisboa: Edições 70, 1951.

AUSTIN, John Langshaw. Quando dizer é fazer palavras e ação. Porto Alegre: Artes médicas, 1990. 

BARROS. D. R. Lugar de negro, lugar de branco? São Paulo: Hedra, 2019.

BUTLER, J. Subjects of Desire: Hegelian Reflections in Twentieth-Century France. Nova Iorque: Columbia University Press, 1987.

 ______. Corpos que importam. São Paulo: N-1 edições, 2019.

 ______. A vida psíquica do poder. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.

 ______. Problemas de gênero. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018. 

______. Desfazendo gênero. São Paulo: Unesp, 2022.

______. A força da não violência. São Paulo: Boitempo, 2021.

______. A reinvenção de Antígona. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2022. 

______.“Pode-se levar uma vida boa em uma vida ruim?” In: https://www.revistas.usp.br/cefp/article/view/140829 

BUTLER, J.; TOHIDI, N. An interview on feminist ethics and theory with Judith Butler. Journal of Middle East Women’s Studies, Vol. 13, N. 3, p. 461-468, 2017. 

BUTLER, J.; REDDY, V. Troubling Genders, Subverting Identities: Interview with Judith Butler. Agenda: Empowering Women for Gender Equity/African Feminisms, N. 62/ Vol. 2, N.1, p. 115-123, 2004. 

CADAHIA, M. L. El cuerpo en discordia: Judith Butler y la reactivación de la dialéctica del amo y el esclavo. ISEGORÍA. Revista de Filosofía Moral y Política, N. 56, p. 109-125, 2017. 

CÉSAR, M. R. de A. A crítica da noção de identidade e atualizações contemporâneas da estética da existência: feminismo(s), movimentos LGBT e política queer. In: RESENDE, Haroldo de (org.). Michel Foucault: política: pensamento e ação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016, p.137-146. Body & Society, Vol.13, N.4, p. 47 75, 2007. 

DE SANTO, M. Prolegómenos de la performatividad: un diálogo posible entre J.L. Austin, J. Derrida y J. Butler. Sapere Aude, Belo Horizonte, Vol.4, N. 7, p. 368-84, 2013. 

DE SOUSA FILHO, Alípio. Tudo é construído! Tudo é revogável!: a teoria construcionista crítica nas ciências humanas. São Paulo: Cortez, 2017. ______. 

DERRIDA, J. Margens da filosofia. Campinas, SP: Papirus, 1991.

_______. A voz e o fenômeno: introdução ao problema do signo na fenomenologia de Husserl. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.

_______.  O monolinguismo do outro ou a prótese de origem. Porto: Campo das Letras, 1996.

_______. Posições. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

_______. Gramatologia. Tradução de Miriam Chnaiderman e Renato Janine Ribeiro. São Paulo: Perspectiva, 2004. 

_______. “O que é a desconstrução?”. Le Monde, suplemento especial, outubro de 2004. 

_______. “O outrem é secreto porque é outro”. In: DERRIDA, Jacques. Papel máquina. Tradução Evando Nascimento. São Paulo: Estação Liberdade, 2004.

_______. Firma, acontecimiento, contexto (Edición electrónica de www.philosophia.cl /Escuela de Filosofía Universidad ARCIS), 1971. 

DUARTE, A. Foucault e os coletivos políticos: novas formas de vida para além do sujeito identitário de direitos. In: RESENDE, Haroldo de (org.). Michel Foucault: política: pensamento e ação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016, p. 35-49. 

FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. São Paulo: UBU, 2020.

______. Em defesa da revolução africana. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1969.

______. Os condenados da terra. Lisboa: Editora ULISSEIA, 1961.  

______. Alienação e Liberdade. São Paulo: UBU, 2020.

GATTI, L. Exercícios do pensamento: dialética negativa. Novos estud. – CEBRAP, São Paulo, n.85, p.261-270, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_

HEGEL, G.W.F. Fenomenologia do espírito. 9ªed. Trad. P. Meneses. Petrópolis: Vozes, 2014. HERRANZ, C. P. Parodia como estrategia post-genealógica: una lectura del feminismo de Judith Butler desde la filosofía de M. Foucault. Investigaciones Feministas, Vol 4, p. 335-357, 2013. 

IRIGARAY, L. This Sex Which Is Not One. New York: Cornell University Press, 1985.

________. One Ethics Of Sexual Difference.  New York: Cornell University Press, 1993.

KOJÈVE, A. In Place of an Introduction. In: ______. Introduction to the Reading of Hegel. Inglaterra: Cornell University Press, 1969, p. 03-30. 

JAGGER, G. Judith Butler: sexual politics, social change and the power of the performative. Londres e Nova Iorque: Routledge, 2008 (Arquivo Kindle). 

LOURO, G. L. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. 

______. Teoria queer uma política pós-identitária para a educação. Estudos Feministas, Florianópolis, Vol. 9, N.2, pp. 541-53, 2001. 

MACHADO, Roberto. Introdução: por uma genealogia do poder. In: FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 4ª ed, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016, pp. 07-34. MISKOLCI, Richard. Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenças. Belo Horizonte: Autêntica & UFOP, 2012. 

NAVARRO, P. P. Del texto al sexo: Judith Butler y la performatividad. Espanha: Editorial Egales, 2008 (Arquivo Kindle). 

NEUHOUSER, F. Desire, Recognition, and the Relation between Bondsman and Lord. In: WESTPHAL, K. R. . EUA e outros: Blackwell publishing, 2009, p. 37-54. RODRIGUES, C. Performance, gênero, linguagem e alteridade: J. Butler leitora de J. Derrida. Sexualidad, Salud y Sociedad – Revista Latinoamericana, N.10, p.140-164, 2012. _______. O luto entre clínica e política. Belo Horizonte: Autêntica, 2021.

ROSA, P. Gênero: performativo ou ontológico?. Peri, Vol. 4, N. 1, p. 46-56, 2012. SAFATLE, Vladimir. Sexo, simulacro e políticas da paródia. Revista do Departamento de Psicologia – UFF, vol. 18, N. 1, p. 39-56, 2006.

 ______. Curso integral. A Fenomenologia do Espírito de Hegel, 2007. Disponível em: , acesso em: 30/12/2017. 

_______. A paixão do negativo: Lacan e a dialética. São Paulo: Unesp, 2006. 

_______. Dar  corpo  ao  impossível:  o  sentido  da  dialética  a  partir  de  Theodor  Adorno.  Belo Horizonte: Autêntica, 2019. 

_______. “Linguagem e negação: sobre as relações entre pragmática e ontologia em Hegel”. In: Doispontos, Curitiba, São Carlos, vol. 3, n. 1, p.109-146, abril, 2006. https://revistas.ufpr.br/doispontos/article/view/5163/3885 

SALIH, Sara. Judith Butler e a teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. 

SULLIVAN, N. A critical introduction to queer theory. Nova Iorque: New York University Press, 2003. 

SWAIN, T. N. Para além do binário: os queers e o heterogêneno. Gênero, Niterói, Vol.2, N.1, pp. 87-98, 2001.

WITTIG, M. The Straight Mind and Other Essays. Boston: Beacon Press, 1992.

______.

Aspectos técnicos
As aulas serão transmitidas pelo Google Meet. As instruções para o acesso serão enviadas por e-mail dois dias antes do início do curso. Se você se inscrever nos últimos momentos, receberá essas instruções no dia da primeira aula.

Nossas aulas são transmitidas ao vivo, mas são também gravadas e podem ser assistidas posteriormente. Os links dos vídeos ficam ativos por 30 dias corridos a partir do fim do curso. Oferecemos certificado apenas para quem tiver 75% de presença nas aulas ao vivo.

Para mais informações: [email protected]

Ministrado por

Alessandra Affortunati Martins

Psicanalista e pesquisadora de pós-doutorado pelo departamento de filosofia da FFLCH-USP (bolsa FAPESP). É psicóloga (PUC-SP), bacharel em filosofia (FFLCH-USP), doutora em Psicologia Social (IP-USP) com estágio no Zentrum für Literatur und Kulturforchung (ZfL). Autora do livro “Sublimação e Unheimliche” (Casa do Psicólogo, 2016 – no prelo).

Aulas

AULA 1
Data: 15/05/2023
Horário: das 19h00 às 21h00

____________________________________

AULA 2
Data: 22/05/2023
Horário: das 19h00 às 21h00

_____________________________________

AULA 3
Data: 29/05/2023
Horário: das 19h00 às 21h00

____________________________________

AULA 4
Data: 05/06/2023
Horário: das 19h00 às 21h00