Literatura dos pactos diabólicos e psicanálise

Ementa do Curso

Quais são as relações entre figuras diabólicas do gênero literário Künstlerroman e construções psicanalíticas? O curso busca responder a questão, revisitando algumas obras da literatura e da psicanálise. 

Sob o título Uma neurose demoníaca do século 17 (1923), Sigmund Freud publica um estudo sobre a história do pintor Christoph Haizmann, cujo quadro clínico era uma neurose demonológica. Nela, o diabólico relaciona-se a uma estranheza com o corpo. O pacto com o demônio teria sido feito pelo artista em 1677. Freud considera que se trata de uma tentativa de libertar-se da melancolia após a morte do pai que, por sua vez, teria trazido uma incapacidade artística. Embora seja a maior referência a uma obra do gênero na psicanálise, ela não é a única a aparecer no campo psicanalítico. Analisaremos o domínio subjetivo do quadro demonológico e veremos como essas personagens buscam transpor os limites de sua própria identidade, assumindo um modo de existência além e aquém do humano.

De outro lado, o curso analisará como os embates espirituais com o demônio estão inseridos em uma tradição moderna, que se enlaça com os abalos de culturas tradicionais. O intelectual ou o artista moderno é uma figura que transpõe as fronteiras da tradição e perturba-se com a ultrapassagem da Lei simbólica. Explorando essa chave, abordaremos os escritores alemães E. T. A. Hoffmann, Johann Wolfgang von Goethe, Thomas Mann e o modernista brasileiro João Guimarães Rosa. 

1)Os elixires do diabo, de E.T.A. Hoffmann
A estranheza do duplo e os limites do eu.

2) Fausto, de Goethe
Os limites da sublimação, o erotismo e os lugares da dominação colonizadora.

3) Dr. Fausto, de Thomas Mann
O significado da genialidade e os percalços da expansão do poder de criação na literatura e na psicanálise.

4) Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa
Os recônditos lugares brasileiros e os entraves dos ideais de progresso: questões sobre o inconsciente no Brasil.

Referências bibliográficas
Benjamin, W. (1930) E. T. A. Hoffmann e Oskar Panizza. In: O capitalismo como religião. São Paulo: Boitempo, 2013.
______. (1919) O conceito de crítica de arte no romantismo alemão. São 

Paulo: Iluminuras, 2002.
______. (1921) O capitalismo como religião. In: O capitalismo como religião. São Paulo: Boitempo, 2013.
______. (1922) As afinidades eletivas de Goethe. In: Ensaios reunidos: escritos sobre Goethe. São Paulo: 34, 2009.

Bolle, W. grandesertão.br. São Paulo: Editora 34, 2004. 

Bretas, A. C. Do romance de artista à permanência da arte: Marcuse e as aporias do modernidade estática. São Paulo: Annablume, 2013.
_______ Aquém do homem. Santo André: Editora UFABC, 2022. 

Costa, A. & Rinaldi, D. Escrita e psicanálise. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2007.

Freud, S. (1914). Zur Einführung des Narzissmus. In: ______. Gesammelte Werke: Psychoanalytische Studien + Theoretische Schriften + Briefe. In: _____.Berlin: e-artnow, 2015.
______. (1919). Das Unheimliche. In: ______. Gesammelte Werke: Psychoanalytische Studien + Theoretische Schriften + Briefe. Berlin: e-artnow, 2015.
______. (1923). Das Ich und das Es. In: ______. Gesammelte Werke: Psychoanalytische Studien + Theoretische Schriften + Briefe. Berlin: e-artnow, 2015.
_____. (1923) Eine Teufelsneurose im siebezehnten Jahehundert. In: _____.Gesammelte Werke: Psychoanalytische Studien + Theoretische Schriften + Briefe. Berlin: e-artnow, 2015. 

Goethe, J. W. Fausto I e II: uma Tragédia. São Paulo: Editora 34, 2004.  

Guimarães Rosa, J. Grande sertão veredas. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

Günzel, K. E. T. A. Hoffmann. Leben und Werke in Briefen Selbstzeugnissen und Zeitdokumenten. Berlin: Verlag der Nation, 1978. 

Hansen, J. A. Aula 1 sobre “Grande Sertão: veredas”. In: https://www.youtube.com/watch?v=kP8yy5CGSdk

______ Aula 2 sobre “Grande Sertão: veredas” de Guimarães Rosa. In: https://www.youtube.com/watch?v=QtjyfCP0pFY 

Hoffmann, E. T. A. Os elixires do diabo. São Paulo: Estação Liberdade. 2022.

Kunz, C. S. “O Romance de Artista Alemão: arte e utopia no jovem Marcuse”. In: https://www.revistas.usp.br/filosofiaalema/article/view/155979 

Kangussu, I. “Sobre a alteridade do artista em relação ao mundo que o cerca, segundo Herbert Marcuse”. In: https://www.scielo.br/j/kr/a/ftj7KZGTRZLNyVCzTWpmYMP/?lang=pt&format=pdf 

Kutzenberger, S. Europa in Grande Sertão: Veredas – Grande Sertão: Veredas in Europa. Amsterdam: Rodopi, 2005.

Iannini, G.; Tavares, P. H. Freud e o infamiliar. In: FREUD, S. O Infamiliar / Das Unheimliche. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. p. 55-22.

Lacan, J. (1959-0) O seminário, livro 7, A ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
_______ (1961-2) O seminário, livro 9, A identificação. Recife: Centro de estudos freudianos do Recife, 2003.
_______ (1962-3) O seminário, livro 10, A angústia. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

Loureiro, I. Três olhares sobre a relação Goethe/Freud. Percurso, ano VIII, n. 16, 1997.
______. O carvalho e o pinheiro, Freud e o estilo romântico. São Paulo: Escuta, 2002. 

Lukács, G. A teoria do romance. Trad. A. Margarido. Lisboa: Presença, [s.d.].
______ Essays on Thomas Mann. London: Merlin Press, 1964.

Mann, T. A morte em Veneza. Trad. Maria Deling. São Paulo: Hemus, [s.d.].
_________ Dr. Fausto. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

Marcuse, H. Der deutsche Kunstlerroman. In:_______. Schriften 1. Frankfurt: Suhrkamp, 1978.

Martins, K. P. H. & Rabêlo, F. C. “Considerações psicanalíticas sobre Os elixires do diabo, de E. T. A. Hoffmann” In: http://www.bivipsi.org/wp-content/uploads/2021-cprj-cadernos-v43-n45-10.pdf 

Mazzari, M. V. A dupla noite das tílias. São Paulo: Editora 34, 2019.
__________ “Thomas Mann e as ideologias do ódio: ‘Irmão Hitler’”
https://estadodaarte.estadao.com.br/mann-ideologias-odio-marcus-mazzari/
_________ Labirintos da Aprendizagem. São Paulo: Editora 34, 2022.

Mazzari, M. V. & Galle, H. Fausto e a América Latina. São Paulo: Humanitas, 2010. 

Munk, L. E. T. A. Hoffmann e a cegueira esclarecida. Contingentia, v. I, pp. 11-9, 2006. 

Parente, A. M. Sublimação e Unheimliche. São Paulo: Pearson, 2017.

Rank, O. Der Doppelgänger: eine psychoanalytische Studie. Viena: Internatiomaler Psychoanalytischer Verlag, 1925.

Rivera, T. Guimarães Rosa e a Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
______ Arte e Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 2002. 

Rosenfeld, A. E. T. A. Hoffmann. In: Letras germânicas. São 

Paulo: Perspectiva/Edusp, 1993.
______. Aspectos do romantismo alemão. In: Texto/Contexto. São Paulo: Perspectiva, 2013. 

Safranski, R. Romantismo, uma questão alemã̃. São Paulo: Estação Liberdade, 2010.
______. E. T. A. Hoffmann, das Leben eines skeptischen Phantasten. Frankfurt am Main: Fischer Verlag, 2010. 

Schwarz, R. Grande sertão: estudos. In: Coutinho, E. (Org.) Guimarães Rosa. Rio de Janeiro; Brasília: Civilização Brasileira; Instituto Nacional do Livro, 1983. p.378-89. (Col. “Fortuna Crítica”, v.6). 

Seligmann-Silva, M. O local da diferença. São Paulo: 34, 2005.

Silva, F. V.; Costa, S. F. A imaginação romântica como neurose? O debate freudiano sobre o animismo e a questão do olhar em E. T. A. Hoffmann. Pandaemonium Germanicum, v. 22, n. 38, p. 122-141, 2019. DOI: https://dx.doi. org/10.11606/1982-88372238122 

Vejmelka, M. “A travessia perigosa: Grande sertão: veredas e Doutor Fausto em leitura dialógica”. In: http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142009000100020&lng=pt&nrm=iso 

Aspectos técnicos
As aulas serão transmitidas pelo Google Meet. As instruções para o acesso serão enviadas por e-mail dois dias antes do início do curso. Se você se inscrever nos últimos momentos, receberá essas instruções no dia da primeira aula.

Nossas aulas são transmitidas ao vivo, mas são também gravadas e podem ser assistidas posteriormente. Os links dos vídeos ficam ativos por 30 dias corridos a partir do fim do curso. Oferecemos certificado apenas para quem tiver 75% de presença nas aulas ao vivo.

Para mais informações: [email protected]